Esse alguém, repentinamente parou no meio da multidão, cobriu a cabeça com a toca que lhe tomava todo o rosto, deixando apenas dois orifícios para o rosto. Ergueu a outra mão que se revelou com um revólver, deu dois disparos e disse em alto e bom tom:
_A escola é nossa! Ninguém entra ninguém sai!
E nesse momento, o som parou, a venda de comes e bebes também parou e, por todos os lados, pequenos caiçaras corriam pra lá e pra cá, com um revolver na mão. A maioria era criança, tinham entre nove e quatorze anos. Alguns entre quinze e dezenove e um ou outro com mais de vinte.
Num instante, a escola ficou cercada por marginais. Muitos, nem roupa tinham, tampavam o rosto com a camisa. Usavam o buraco em que se passa a cabeça para os olhos e tampavam o nariz, a boca e o cabelo com o resto da camisa, e davam um laço atrás com as mangas da camisa pra prender. Outros tinham tocas que tampavam todo o rosto, tipo as de motoqueiro, ou improvisavam como podiam.
Todos eram reféns, e todos os reféns estavam espalhados pela escola. Foi nesse momento que ele sentiu um cano na cabeça enquanto seu amigo olhava assustado e uma voz de moleque veio de trás dele:
_Fica quietinho que ninguém sai ferido!
_Preciso ir ao banheiro. Disse decidido.
_Mas não vai. Se quiser caga nas calça! O pequeno marginal falava com abuso de poder.
_Cago na sua cabeça, ou eu vou...
_Ou tu morre... Ou tu caga nas calça ou tu morre!
Ele levantou e começou a caminhar rumo ao banheiro. Deu uma olhada pra trás e viu um menino, de uns onze anos, com um short marrom de moletom que ia pra cima dos joelhos e uma camisa de cor meio lilás muito clarinha, meio suja de terra. Usava uma toca colorida e nela havia uma costura que lhe servia pra tampar o rosto. Nesse rapazinho, uma arma. Uma arma simples, Gloc talvez.
_Hei, você! Vai com ele no banheiro! E vai agora! Disse o marginal ao seu amigo.
Estavam os dois indo em direção ao banheiro. Ele estava fudido de raiva, os olhos vermelhos. Se pegasse um desses caiçaras, espancava até a morte, seu amigo tinha começado a chorar e vez ou outra implorava pela vida.
Quando entraram no banheiro, o pequeno marginal ficara pra fora.
Ele já estava acostumado a esse tipo de banheiro de escolas públicas. Sujos, pichados, fedidos, com as privadas entupidas, ou seja, impossível de usar mesmo. Lá, ele descreveu ao amigo o plano que tinha na cabeça.