terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Dust in the Wind...

Não era lá uma boa idéia morar na rua Maria de Lourdes de Souza Beraldo em meados dos anos 90.

Certamente, o bairro composto quase que inteiramente por senhores e senhoras aposentados tentando levar uma velhice normal e saudável não tinha dado certo, uma vez que o restante das casas ocupadas eram de jovens casais com filhos entre 7 e 10 anos de idade.

E foi lá que começou a maior estória de um grupo de amigos que um ser-humano pode imaginar.

Eram aproximadamente três horas da tarde de umas férias de verão muito corriqueira. A sociedade não perdia por esperar quando o clubinho estivesse completamente pronto. Mas enquanto isso não acontecia, nós jogávamos controle na frente de casa.

O muro da casa da Dona Carminha, que era esposa do deputado estadual Bolinha, servia de gol. E era bom, porque era alto e tinha marcações perfeitas para servir de travessão.

E era a vez de o Julian e o Matheus Bacochina ficarem na linha e o Josemar no gol. Eu, Bernardo e Gabriel Grande (sim, eu era o Gabriel Pequeno), estávamos esperando.

Eu estava muito entediado, quando ao olhar pro lado, notei uma caixinha de fósforo esquecida pelos pedreiros que estavam reformando o quintal de casa, que estava sendo usado provisóriamente como escritório dos negócios do meu pai.

Peguei o insumo do chão e comecei a riscá-los e apagar contra o montante de areia na minha calçada. Ao ver inocente brincadeira, Gabriel Grande e Bernardo matutaram um plano infalível, e quando o Matheus Bacochina perdeu a linha pro Josemar e eu fui pro gol, Bernardo e Gabriel Grande se apossaram da caixinha de fósforos.

Estava 2 à 1 pra mim (modéstia a parte, eu era um bom goleiro, mas essa é uma história que eu conto outro dia), quando uma fumaça surgiu do lote vizinho da casa da Dona Luiza (que era a minha vizinha). Fomos todos correndo para ver o motivo do fogaréu, e vimos o Bernardo e o Gabriel Grande fazendo uma fogueira meio a um capinzal (devido à um corte recente do alto mato, o mesmo secou e gerou alto teor de capim). Ao ver que o fogo se alastraria, com uma insuperável inocência pudemos ouvir o Gabriel Grande dizer "JOGA PALHA ENCIMA PRA APAGAR O FOGO!"

Jogar palha encima de fogo, pra apagar o fogo?

JOGAR PALHA ENCIMA DE FOGO, PRA APAGAR O FOGO?!!

Meu deus do céu! Foi nesse dia que eu tive certeza que o Gabriel Grande era doente da cabeça!

Não deu muito tempo de falar "NÃO!" que ele e o Bernardo jogaram o máximo de capim que eles conseguiram, pra "apagar o fogo".

E o inferno estava feito. Só faltou Lúcifer subir para a superficie. O fogo se alastrou rapidamente por todo o terreno baldio, o Bernardo desesperado foi chamar o seu primo mais velho Roberto (que era melhor amigo do Gabriel Grande), e nós começamos uma ação para apaziguar o fogo.

Armados de pás e enxadas, coletamos a maior quantidade de areia possível para poder apagar o inferno de Dante.

Enquanto corríamos desesperados para poder amenizar a situação, para que não pegasse fogo a casa de Dona Luiza, fui chamar meu pai, os bombeiros, a polícia, a defesa civil, o presidente da república.

Meu pai, ao ouvir que o lote estava o inferno, pegando fogo, ele largou seus afazeres para dar um fim na situação, pegou o extintor do carro (ééé... o extintor do carro... grande solução para o problema...) e foi correndo até o lote. Chegou lá, viu o fogo ralinho e disse "Ah, eu achei que tinha pegado fogo na casa da Dona Luiza".

Meu! O inferno correndo solto, a gente se matando pra apagar o fogo e meu pai fala que "Tá tudo bem, isso não é nada"?

Quando nos demos conta, percebemos que eram apenas labaredas curtas que não fariam mal a ninguém e que logo que acabasse o capim, ela se extinguiria.

Apesar de termos inalados uma tonelada de fumaça, termos queimados nossos tênis e sujado nossas roupas, ainda por cima tivemos de ouvir a maior bronca do pai do Bernardo, o Tio Rod, o senhor da sabedoria. Pra mim, ele até hoje é o homem mais inteligente do Mundo. Mas essa também é uma outra história.

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